segunda-feira, abril 24, 2006

O Primeiro Dia

A princípio é simples anda-se sozinho
Passa-se nas ruas bem devagarinho
Está-se no silêncio e no borborinho
Bebe-se as certezas num copo de vinho

E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida


Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
Dá-se a volta ao medo dá-se a volta ao mundo
Diz-se do passado que está moribundo
Bebe-se o alento num copo sem fundo
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
Entra-se cansado e sai-se refeito
Luta-se por tudo o que leva a peito
Bebe-se come-se e alguém nos diz bom proveito
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vem cansaços e o corpo frequeja
Olha-se para dentro e já pouco sobeja
Pede-se o descanso por curto que seja
Apagam-se duvidas num mar de cerveja
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio

Enfrenta-se a vida de fio a pavio
Navega-se sem mar sem vela ou navio
Bebe-se a coragem até dum copo vazio
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
E outra maré cheia virá da maré vaza
Nasce um novo dia e no braço outra asa
Brinda-se aos amores com o vinho da casa
E vem-nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Letra de Sergio Godinho

domingo, abril 23, 2006

A um Deus desconhecido...

À primeira vista não considero que ver televisão seja pecado. Embora este passatempo não abone muito a favor do desenvolvimento cerebral, não devemos ter o acto como algo proibido, apenas podemos tentar aplicar o nosso tempo em coisas que nos tragam mais benefícios. Tambem não acho que devemos proibir as crianças de ver televisão, apenas ensiná-las que para além disso têm outros passatempos que serão com certeza bem mais divertidos.
Por isso mesmo achei um exagero a proposta de um bispo norte americano que ver muita televisão passasse a ser considerado pecado e que, imaginemos, por cada duas horas de visualização, os crentes tivessem de se ir confessar a um padre e receber a devida punição para se redimir. Não seria bem isto, seria algo parecido.
Porém, e embora continue a achar o que acabo de escrever, apercebi-me ao ver um programa chamado Prazer dos Diabos na SIC Comédia (o qual recomendo) que a televisão pode na realidade representar péssimos valores, pode representar os piores valores do ser humano, dignos de serem considerados pecado. Embora perdoáveis a quem assiste, deveriam ser imperdoáveis a quem tira qualquer lucro da transmissão de certos acontecimentos, que apenas envergonham os canais televisivos que o fazem e principalmente os seus directores. Passo a explicar…
Há um canal de televisão que nos últimos tempos em muito se tem esforçado por divulgar e promover os piores comportamentos do ser humano. Entre outros, a má relação que mantem com os animais. Estou a referir-me à TVI e aos seus programas Circo das Celebridades e Morangos com Açúcar. O primeiro ajuda a divulgar um espectáculo que se apoia entre outras coisas, no sofrimento de animais para animar plateias, um comportamento que se manteve estático desde há mesmo muito tempo. Desde sempre que se aplaude o sofrimento alheio! O segundo dirige-se às gerações mais novas, crianças e adolescentes, ou seja, as gerações que estão naquela fase em que absorvemos tudo o que nos rodeia sem distinguir muito bem o certo do errado, uma fase crítica em que se forma a nossa personalidade. Ora tendo isto em conta, será correcto um programa de televisão ter grande parte dessa responsabilidade? Numa altura em que se sabe que os jovens passam mais tempo em frente à televisão que a conviver entre si? Pior! Será correcto promover nessa série, que em tanto influencia os jovens, um espectáculo violento como a tourada?
Embora tudo isto seja grave, pior que não respeitar os animais é não respeitar as pessoas. E com vista ao enorme lucro que isso iria trazer e trouxe com certeza, passar em directo durante uma tarde inteira o funeral de um jovem actor de 22 anos. Podemos aqui argumentar que também foi transmitido em directo (e eu até comentei o acontecimento no “Horizontes” do MSNSpace) o funeral de Álvaro Cunhal, por exemplo. Mas tratava-se de uma pessoa que faleceu com 91 anos e que dedicou muitos desses anos ao país. Foi uma homenagem que o povo lhe fez. No caso do jovem actor Francisco Adam, não foi uma homenagem, porque não faria sentido, foi uma exploração, exploração de uma morte trágica, e do sofrimento de muitas pessoas, dos colegas, dos amigos, da família. Uma transmissão que até teve intervalos com publicidade dirigida ao público jovem. Nem quero imaginar a negociação dessas empresas com a estação de televisão para passar a sua publicidade durante esse “espectáculo” com tanta audiência, deve ter sido dos mais tristes dos cenários. Logo a seguir a essa transmissão, ainda foi possível descer mais baixo e passar um episódio da série onde ainda aparece o jovem actor, num horário que nem sequer é o habitual.
É verdade que vivemos numa sociedade de consumo e que se vão perdendo muitos dos valores humanos, mas ainda custa a aceitar que até a morte, por mais trágica que seja, possa ser um negócio. E se é azar para uns, parece que é uma grande sorte para outros.
Realmente a televisão pode ser um grande pecado. E nestes casos, se o não é para o Deus destas pessoas, que o seja algures perante um qualquer outro Deus.

sábado, abril 08, 2006

Piratas do Cybermundo

Hoje em dia já não é preciso usar pala no olho, ter uma perna de pau e nem ter cara de mau para se ser um pirata. Basta ter um computador, um servidor de internet, um programa de partilha de ficheiros e... não ter muito dinheiro. A partir de agora todas as pessoas que sacam músicas, filmes, fotografias, seja o que for da internet, são umas criminosas e descobriu-se recentemente que estão a destruir a indústria discográfica portuguesa. Pelo menos essa é a industria que mais se tem declarado como quase falida devido a esse crime horrendo. E começam até a desaparecer os tambores e pratos das baterias dos pobres bateristas portugueses. Mea culpa!
Eu confesso que me senti mal ao ver artistas que tanto admiro, dizer que os estamos a prejudicar, é que eu até estava actualmente a sacar coisas desses mesmos artistas. Eu lamento isso, mas será que eles sabem que tenho de comer? É que se me puser a comprar todos os cds e dvds que gostaria de ter, não sobra rendimentos nem para uma carcacinha!
Tantas indústrias estão a falir devido à falta de poder de compra dos portugueses e devido à crise (esta maldita crise que não se vai sabe-se lá porquê), porque que não acusam esse problema de ser também o causador da falência desta? Só porque arranjámos alternativas para continuar a consumir os seus produtos? É que não estou a pensar começar a gastar todos os meus rendimentos em cds ou dvds. Se não poder obtê-los através da Internet, simplesmente terei de os deixar de consumir, e voltar aos bons velhos tempos da rádio (que bom para os donos das rádios, mas não para os artistas portugueses, pois eles lá não passam muito disso! Será que a culpa também é nossa?), ou ficar a ver os canais musicais da tv cabo.
Lamento, mas não posso comprar todos os vossos cds, Srs. Artistas! Talvez fosse melhor falarem com os que ficam com a diferença que vai entre os 0,50 euros dum cd saído da fábrica e os 15 euros com que surgem nas lojas. Ou então pedir ao governo para baixar o IVA, que já ajudava bastante. Ou isso ou passarei a sacar as coisas da internet com uma meia na cabeça, para não ser reconhecida.