quinta-feira, março 15, 2007

Que futuro?

Qual será o futuro do nosso país, do nosso continente e porque não, do nosso mundo, quando este estiver nas mãos destes que hoje são crianças e batem nos professores, nos pais, nos avós… e em muitas outras figuras que supostamente deveriam representar autoridades e impor respeito mas que nos dias de hoje não parecem representar coisa alguma?
Em tempos idos os pais comiam primeiro, sendo que as mulheres se seguiam aos homens na vez de sentar à mesa e para o fim ficavam as crianças (não estou a dizer que concordo, apenas a verificar um facto). Estas comiam o que sobrava e só se sentavam com a devida autorização, eram sem duvida a base da hierarquia, em tudo. Nos tempos de maior pobreza as crianças para além de perderem o direito a escolher a melhor comida, perdiam ainda o direito a ser crianças e desde muito cedo começavam a ajudar os pais no sustento da casa. Nos campos principalmente, andavam de sol em sol cantando e brincando num ritual que para quem via de fora podia parecer de muita alegria e brincadeira mas de dentro sabia-se que custava a infância, custava o direito à brincadeira, custava muito. Mas também as hipóteses de brincadeira eram poucas, não haviam brinquedos e os poucos que haviam tinham de ser construídos pelos próprios.
Acima de tudo os pais mandavam, usavam o seu estatuto de mais velhos e usavam também a força, talvez até demais. Os professores também eram autoridades para as crianças e também usavam a força, talvez também demais. Mas depois surgiu um dado novo que modificou toda esta estrutura de sociedade, descobriu-se que “o melhor do mundo são as crianças”, graças a Fernando Pessoa. E a partir daí as coisas foram mudando, até chegarem ao que são nos dias de hoje, em que os papeís estão invertidos. Nada pior para uma sociedade criada às pressas por homens pensadores do que papeis invertidos. Poderá ser o fim, o principio do fim ou será pelo menos, de certeza, o começo de uma mudança qualquer.
Os pais já não mandam nos filhos, não recorrem a qualquer tipo de violência pois os telejornais assustam qualquer pai que pense sequer em dar uma palmada ao seu filho. Resta agora esperar que os filhos também se assustem quando noticias a falar de pais vitimas de negligencia, bombardearem os telejornais e pode até acontecer que um dia um grande poeta escreva que “o melhor do mundo são os adultos pais das nossas crianças”. Os professores também já não são agressivos, agora são agredidos, pelos alunos e por pais revoltados. Trata-se de uma nova forma de reunião de encarregados de educação. Os avós também não têm grande voto na matéria, mas a figura do avô sempre foi a de policia bom, agora não sei qual é, uma vez que não há policia mau.
Mas de quem é a culpa? Do acesso a brinquedos sofisticados que não exigem imaginação nem inteligência para ser usados? Do acesso a jogos com gráficos quase reais e cheios de violência? Dos desenhos animados com xutos e pontapés? Do acesso à Internet que possibilita aceder a informação sem o mínimo de esforço (ainda me lembro do desespero que era arranjar aquela música fantástica que ouvira na rádio)? Dos medos e da falta de tempo dos pais e da consequência disso nas escolas? Ou será do grande poeta Fernando Pessoa? Não sei. Mas de momento quando vejo as noticias “fashion” de agressões a professores que os telejornais divulgam constantemente, de filhos a mandar nos pais, de vandalismos gratuitos pelas ruas cometidos por crianças e adolescentes... Penso: o que será do nosso futuro entregue a estas pessoas que não têm quaisquer figuras de autoridade nem noção dos seus limites?

6 comentários:

Ricardo Sardo disse...

A questão é extramente delicada e melindrosa.
Veja-se os exemplos recentes de Decisões do Supremo Tribunal de Justiça em que considera que umas "palmadinhas" até fazem bem.
Vieram logo associações disto e daquilo a criticar e a defender as crianças, acusando de violência.
Mas a questão não é tão simples.

Eu quando era "puto", levei de longe a longe umas palmadinhas e umas estaladas (estas já muito raramente). Fizeram-me bem? Estou convencido que sim, pois contribuiram para a minha apreensão de regras de conduta e de respeito.
Não defendo que os pais devam aplicar sempre esta "técnica" de ensino, mas que era muito mais eficaz do que as actuais era... Penso que, no fundo, temos de achar um meio termo.

Na tua análise vais buscar um pouco de como as coisas eram no passado, não há muito tempo atrás. E vais buscar bem.
Antigamente, vivíamos numa sociedade em que eram poucas as mulheres que trabalhavam, ou pelo menos tinham muito mais disponibilidade para estar em casa e educar os filhos. Actualmente, as mulheres são muito mais livres e preferem na maioria dos casos apostar numa carreira profissional do que na constituição de uma família (atente-se, por exemplo, nas taxas de natalidade dos últimos anos). E as poucas que tentam conciliar o trabalho com a família, não conseguem evitar uma ausência repetida, o que concede uma enorme liberdade para os filhos que, muitas vezes ficam horas e horas sozinhos em casa, podendo fazer o que bem entenderem, como por exemplo jogar jogos de computador violentos, sem o controlo dos pais.
Claro que a culpa também é um pouco do mercado, pois permite que as crianças tenham acesso a estes jogos, havendo estudos que indicam que estes são prejudiciais.

Em suma, é um tema bastante polémico e manhoso, que precisa de ser discutido de forma série a profunda, pois há sempre que venha apregoar medidas radicais. Espero que este teu "post" possa servir de contributo para esse debate...

llarafernandes disse...

Sou da opinião de que uma palmadinha, como último recurso, nunca fez mal a ninguém... e quando digo uma palmadinha é mesmo só uma palmadinha! A partir daí acho exagero. Os pais devem corrigir de forma correcta, na hora certa, de forma a que os filhos percebam onde, quando e porquê não devem repetir o que fizerem. Isto tudo de preferência com uma boa conversa.

Acho que o papel de pais passou do "80" para o "8", de muito rígidos para desligados. Nunca culpo a sociedade e sim os pais. Sempre houve jogos, filmes de sexo explícito, e tudo o que possa desviar os putos, mas os pais têm o papel de educar os filhos a serem equilibrados perante estas coisas. Proibir nunca funcionou... porque antigamente os filhos tinham dificuldade ao acesso a essas coisas e qdo se apanhavam com uma revista Playboy nas mãos ou outras coisas... ui ui ui. No fundo, os pais têm de incutir valores aos filhos de tal forma que estes mais tarde, perante estas coisas, consigam fazer as suas próprias escolhas. Um exemplo bastante simples, acontece nas famílias com muito dinheiro em que os pais ao darem desde cedo uma mesada muito alta ou muitas prendas aos filhos, não estão a ensinar os filhos a trabalharem para merecerem o que ganham.

Penso que o maior problema dos pais de hoje é dia é quererem ser amigos dos filhos.

Bem mas ficaria a divagar sobre este assunto a noite toda e vou-te poupar disso :P

Quanto aos professores... chegámos a um ponto em que fizeram tantas leis para proteger a "criança-aluno" que este já pode bater no professor.

P.S:. Quanto ao comentário do Ricardo S. : "Actualmente, as mulheres são muito mais livres e preferem na maioria dos casos apostar numa carreira profissional do que na constituição de uma família (atente-se, por exemplo, nas taxas de natalidade dos últimos anos)." penso qe hoje em dia as mulheres NÃO PREFEREM a carreira profissional do que a constituição da família... simplesmente não temos escolha... OU temos filhos cedo e não conseguimos progredir na carreira OU progredimos na carreira e adiamos a constituição de família.

Ricardo Sardo disse...

Cara Lara:
Concordo que é mais por necessidade do que opção, mas conheço muitos casos em que elas preferem mesmo apostar na carreira.
Mas aqui já entramos noutro tema, o da pressão que existe em muitas empresas para que as mulheres não tenham filhos ou os "despedimentos" provocados pela gravidez, que consubstanciam uma verdadeira descriminação.
Mas o ponto onde queria chegar é precisamente esse: antigamente ficava sempre um dos pais (a mãe) em casa, enquanto que agora é mais frequente não ficar nenhum a maior parte do tempo. E esta, para mim, é a principal causa do problema.

llarafernandes disse...

Sim, sem dúvida... como nenhum dos pais fica em casa e cada vez há menos tempo para os filhos, sentem-se culpados e tentam compensar de forma incorrecta. É uma playstation, é um tlm topo de gama, etc. E também, o pouco tempo que passam com os filhos não querem que seja perdido em discussões ou amuos dos filhos por isso toca de fazer as vontadinhas todas destes. Porque dizer NÃO a uma criança implica muito tempo e trabalho.

Anónimo disse...

Ainda me lembro das nalgadas que os meus pais me deram,comi e ficava calada... e nao os levo a mal, eram rigidos sim, mas souberam incutir em mim valores de justica e respeito ao outro.
Vejo as criancadas de hoje, que pensam que sao "gente",e quando os pais dizem ai ou ui, os pequenos demonios crescem e quase que saltam, quando nao saltam para cima dos pais gritanto e esperneando.
Ok... os pais tem que trabalhar, sao raras as familias que se podem dar ao luxo de apenas um adulto por dinheiro em casa, mas nao sao so os putos mais abastados que tem acesso a internet, as consolas, e praticamente toda a gente, acho que e uma forma de compensar pela falta de tempo de qualidade que os pais passam com os filhos. Direi mesmo e uma especie de suborno.

Se nao houver alguem que oriente nao barco que va a bom porto!

E uma sociedade hedonista que nao para de crescer, quero isto e terei, o prazer a cima de tudo! E nao e so, e uma sociedade em que o meu filho nao pode ter menos que o filho da visinha, e depois o que acontece e que a crianca nao sabe que as coisas nao caem do ceu. Mas o que importa e faze-lo feliz, e concordo desde que seja com justa proporcao.
A educacao deve vir dos pais, e a escola deve suporta-la, o que parece e que os pais deixam a funcao de educar para os professores. Quando os profs comecam a levar nos cornos (desculpem a expressao), e porque em casa a coisa ja nao vai bem. E quando os pais vao a escola para partir cabecas... Bem...
Se eu fosse puto pensaria, se o meu pai pode, entao tambem posso,

Lembro me de a uns tempos estar a estudar com a minha irma, e neste livro que ela lia estavam duas teses de heroditos cujo o nome nao me recordo, o 1o dizia: as criancas sao naturalmente maliciosas, mas a sociedade torna as em individuos decentes. O 2o dizia: AS criancas sao naturalmente boas, mas a sociedade corrompe-as.
Nao faco ideia qual estara mais perto da realidade, mas de facto as criancas sao o que os adulto fazem delas.

Ps- desculpem a falta de acentos

ZuZu

Filipe de Freitas Leal disse...

Realmente é preocupante não termos perspectiva claras do que será o futuro. O que o futuro nos é hoje é a "Incerteza de um amanhã", mas continuamos a marchar no mesmo caminho em direcção a essa duvida e a cometer os mesmos erros, ou quem sabe até piores. Pois somos nós que criamos uma má geração.