quarta-feira, novembro 25, 2009

Maria decide arriscar... (III)

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Bom, a Maria conseguiu safar-se desta trapalhada toda e seguir a sua vida! Manteve as boas amizades que havia feito antes de entrar nesta “twilight zone” relacional, conheceu novos amigos e conheceu o Francisco, que embora ainda não significasse o passo que queria dar, o do compromisso, deu para conhecer com ele coisas novas, ir a sítios onde não tinha ido, coisas que por exemplo com o Zé Manel não havia sido possível, pois este gostava muito de bifanas. Mantiveram contacto...

Só tinha pena de às vezes ainda receber mensagens do Zé "Bifanas" Manel, principalmente quando era à hora de almoço, arriscando-se a deitar para fora o que estava a meter para dentro. Mas a Maria estava apostada em não mudar o seu nr de telemóvel que há tantos anos tinha, o Robertão seu colega de trabalho encarregou-se então de responder a estes contactos, até calhava bem ficar amigo do Zé Manel. Mas tudo isto o Zé Manel fazia em nome da bondade. Bondade? Sim bondade, aquela bondade dos tolos...

"Desde que Maria abdicou destes que eram os seus únicos e verdadeiros amigos, vive fechada numa casa sem janelas, a chorar, já não come nem bebe nem vai ao WC há 3 anos, não vê a luz há 4, nem apanha chuva há 10... O único contacto que tem com o mundo, a única luz que a sua vida sem janelas tem, são as mensagens do Zé "bifanas" "tolo" Manel a tentar estabelecer contacto, qual "ET phone home"... ". Infelizmente esta é a imagem que os seus "amigos" têm e sendo assim o Zé Manel estará para o grupo como o Robin Hood está para os pobres e deve ser por isso que a insistência perdura no tempo. Na tentativa de salvar a Maria da sua profunda solidão. Pois a Maria achava que o Zé Manel devia aproveitar toda esta bondade e coragem heroica para se inscrever num voluntariado qualquer e fazer finalmente alguma coisa de útil. Pondo em prática essas suas grandes qualidades. Se possível num sítio bem longe e onde seja proíbido usar telemóveis. Mas isso já era pedir demais...

No meio da vontade de se livrar destas personagens (à força) da sua história, a Maria realmente abdicou de uma pessoa de quem gostava e a quem era muito grata, a Francelina. Teve pena, achou que não valia a pena e retomou contacto com ela felizmente.

Maria constatou, concluíu, analisou e observou também que uma das características destas pessoas, que podem surgir em qualquer altura das nossas vidas, muito por culpa nossa, é acharem que são os nossos melhores amigos e gabarem-se disso. Pois a Maria passou por um mau bocado e os amigos estiveram lá, nenhum deles fazia parte deste grupo, embora um devesse fazer, o único deles que acompanhou a situação mas optou por virar costas. A Maria aprendeu várias lições...

- Os bons amigos não se gabam; não cobram (seja que tipo de cobrança for); não exigem ser os exclusivos; não insistem em sair quando temos coisas que nos são importantes fazer, com a desculpa de que eles é que sabem o que é melhor para nós; não nos OBRIGAM a sair com eles (por não terem mais ninguém que os ature); não são ciumentos; não estão extremamente ocupados quando mais precisamos mesmo sabendo que precisamos... Muitas vezes nem precisamos de lhes dizer, pois parece que advinham... (É esta a diferença entre amigos e companheiros. Os primeiros gostam de nós e nem sempre estão disponíveis para sair, os segundos gostam apenas da nossa companhia e estão sempre disponíveis para sair - desde que estejamos bem e os animemos ou haja outra vantagem qualquer para eles). A Maria deixou para trás amigos para se relacionar e dedicar a este grupo e quando se arrependeu, os amigos estavam lá, de braços abertos. Os verdadeiros amigos existem, temos de os saber ver e acima de tudo ter a noção que as pessoas avisam ao que vêm, nós é que nem sempre queremos ver...

Talvez esta história tenha acabado aqui, TALVEZ...

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